Três VaLiSeS à InFâNciA iii
Nicolau Saião – Estórias da Branca de Neve
OUTONO
por NICOLAU SAIÃO
Em certos dias
não há quase nada que nos console.
Talvez só uma lembrança
de uma rua ou de uma casa
daquelas especiais
que havia quando éramos adolescentes
e enquanto tomávamos uma bebida
no café onde já nos deixavam estar
seguros da nossa importância
de pequenos pássaros aventureiros
olhávamos pensando
que quem lá morava
devia ter sem dúvida uma vida cheia de sonho.
Em certos dias
o grande mistério fica mudo
e o frio nem cheira a alfazema e rosmaninho
e só conseguimos falar a nosso respeito
anichados pelos recantos.
É bom haver requinte nas pequenas coisas
meter a mão no bolso
e achar uns tostões perdidos
saber que um gato é não mais que um pretexto
para dormirmos a sono solto
Mas a primeira coisa que avistamos
nesses dias sem agasalho
é muitas vezes só a voz dos meses
o choro dos dias santificados
Ou o cheiro dos frutos comidos há anos
e que agora frementes se afastam de nós
enquanto a nossa sombra sem fazer barulho
se coloca de mansinho lentamente devagarinho
bem junto da porta p’ra poder ir-se embora.
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in “A mala de viagens”
da primeira parte de “A mala dos anos”
15 fevereiro, 2009 às 4:31 pm
Que RECANTOS Nicolau!
Esta viagem traz um tom melódico, uma valise que afina tempos a mais memórias…
Abraços.
Carmen Silvia Presotto
http://www.vidraguas.com.br
18 fevereiro, 2009 às 6:02 pm
Maravilho, Saião…
abraços,
edson cruz
22 fevereiro, 2009 às 1:18 pm
Olá, em pleno carnaval o aconchego , os cheiros deixados para trás, a vida mansa e larga e poética. Um mistura lírica só comparada as vozes do Bloco da Saudade do Recife Antigo . Abraços.
4 março, 2009 às 8:10 pm
Só agora vi os vossos comentários, daí que só agora os agradeça com um cordialíssimo abraço. Obrigado!
A muita estima do
ns