Lenda de sólidos paparazzis viciando telespectadores e leitores numa sala de espelhos e reflexos. Ou no respaldo circular dos acessos solitários a web.
Trecho de crônica sobre o poder da mídia publicada no Cronópios. Para mais, segue o link:
Lenda de sólidos paparazzis viciando telespectadores e leitores numa sala de espelhos e reflexos. Ou no respaldo circular dos acessos solitários a web.
Trecho de crônica sobre o poder da mídia publicada no Cronópios. Para mais, segue o link:
Cancro
por Carlos Pessoa Rosa
de que oceanos
estas pedras de ouro?
de que hortas
estes homens de ferro?
de qual poema
esta inspiração papoula?
e o carro
segue no desdentado da pausa
no tom ascendente de crimes estrelares
entre o riso do fruto
e o choro minguante de orquídeas prenhes
que o parto é logo ali
no debruçar do vento alijado de sopros
de que mina
estas águas empoçadas?
de que fonte
estes frutos em ferrugem?
qual papoula
o poeta serviu ao poema?
e a pausa
escorre nos segundos da neve
no frio cadavérico das mesas de alumínio
entre a náusea do feito
e o vômito de um corpo apodrecido
que o fim é logo ali
no tempero de flatos recheados de legumes
: de quando nascentes
aspiram regras de triângulos isósceles
se poema amorfo
não pega doenças venéreas?
A Criação e o Criador
por Murilo Mendes
O poema obscuro dorme na pedra:
“Levanta-te, toma essência, corpo”.
Imediatamente o poema corre na areia,
Sacode os pés onde já nascem asas,
Volta coberto com a espuma do oceano.
O poema entrando na cidade
É tentado e socorrido por um demônio,
Abraça-se ao busto de Altair,
Recebe contrastes do mundo inteiro,
Ouve a secreta sinfonia
Em combinação com o céu e os peixes.
E agora é ele quem me persegue
Ora branco, ora azul, ora negro,
É ele quem empunha o chicote
Até que o verbo da noite
O faça voltar domado
Ao pó de onde proveio.
+_+_+_+_+_+_+_+_
A Inicial
por Murilo Mendes
Os sons transportam o sino.
Abro a gaiola do céu,
Dei vida àquela nuvem.
As águas me bebem.
As criações orgânicas
Que eu levantei do caos
Sobem comigo
Sem o suporte da máquina,
Deixam este exílio composto
De água, terra, fogo e ar.
A inicial da minha amada
Surge na blusa do vento.
Refiz pensamentos, galeras…
Enquanto a tarde pousava
O candelabro aos meus pés.