A Morte do Poeta
por Cláudia L. Moraes
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Dia desses ganhei uma valise mágica. Lá, coloquei tanta coisa: milhares de sonhos; fantasias envelhecidas e nunca usadas, confissões absurdas de como matar o gato da vizinha que faz um barulho danado à noite, a vontade de que o príncipe que tenho ao meu lado volte a ser sapo e se perca numa lagoa qualquer, ou, até mesmo, beijar um novo sapo para transformá-lo em príncipe, quem sabe. Ah! A delícia da conquista. Achei que deveria guardar dentro da tal valise os meu medos todos: de escuro, de distâncias, de ficar sozinha e o pior deles, o de perder a consciência do mundo que me cerca. Coloquei lá dentro as minhas saudades, meus luares, minhas estrelas, meus amores, meus versos inquietos e, por que não, minha mente de poeta? Pronto! Percebi que tudo o que eu tinha e sentia havia ido para dentro da valise. Fiquei vazia. Então, me joguei dentro dela, que simplesmente desapareceu.
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Uma valise entre o mortal e o herói olímpico
por Marco Aqueiva
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Chegaram a mesma hora à vila olímpica. Reconheceram-se prontamente para captar de súbito a transformação de ambos. Na fotografia muda da infância, que ele ainda guardava sob silêncio ultrapassado subitamente por uma sensação esquisita e inominada, sempre habitou outra mulher em outra cidade. Ele nascera para a vida. Ela para a glória. Mas se ela antes extremava seu olhar para um novo futuro, para outra direção, que não a da vida acanhada em si mesma, amesquinhada ao redor de marido, filhos, lazer aos domingos com os sobrinhos e a sogra, vida acanalhada sob certezas e ninharias, onde teria então ficado a pré-história da atleta vencedora que outrora carregava no prazer de cada momento todo o corpo e horizonte de que precisava? Não seria eu que a desceria da glória. Fingi que não a reconheci. Em minha valise ainda hoje permanecem os úmidos vapores da velha fotografia contra a lente rachada de meus óculos.