por BEATRIZ BAJO
Quando eu nasci, vim sem quadril
como usar um fêmur que não coube na bacia?
ossatura descarrilada, toda soltura
quase tilintando na curvatura da inteireza que me sobra
sem cartilagem, tirando a coberta
horte la mento sacrifício aparelho
encalhada fixa presa melhoramento
embrulho de escancaramento de movimento
luxação congênita, desencaixe maior
extremidade inferior apta à locomoção
outras maneiras de andar outras veredas
centrífuga trilha a da abstração
assim que me criei fortalecendo o pandeiro
re-quebrando em rebeldia que resiste
na tela que não espera o convite
loquacidade ácida para quadros não concebidos
outros rostos, rastros moldurados nus
que não encaixam nas penas de feições destras
não cabem nas portas de cínicas lógicas internas
dialógicas ilógicas auto-rias ser brincante
sujeito – sujo – jeito
silencioso sentido entre os vãos da queda lenta
sacudindo “issos” dentro de um precipício com o qual se flerta
investigação aos calabouços de escritura
alquimia de palavras em escuridões que se clarificam
entre o sacolejar do desmoronamento
enredado a um destino fabulado sem resposta
caí..estamos nele (então)
conto de mesmo nome em distintas datas de eternos hojes
en(fim) de mais um começo no quase que é nunca
longe é um lugar que existe e permaneceu em mim
nesse obscuro samba-saudade, verbo que conjugo pelos minutos adentro
não sei qual meio…conheço o que des/cubro quando no papel se aclara
ritual particular de quem comunga com quentura sanguínea ainda não sentida
en.saio entre os vitrais enigmáticos dessa vida atrás e através
pluma no peito do verso, febre nas ancas das tintas acesas que vem e vão
para fazer dançar as letras amolecidas pelo desejo gozado de significar
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Imagem: Frida Kahlo